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26.03.07, Pedro Quartin Graça

João Isidoro, n.º 1 da lista do Movimento Partido da Terra, acha que "um dos grandes erros do Governo Regional é ignorar a pobreza e a exclusão social"
Diário de Notícias da Madeira - 26-03-2007
DIÁRIO - Justifica-se a apresentação desta candidatura do MPT?
João Isidoro - Esta candidatura aparece por uma razão muito simples: um grupo de pessoas de toda a Região reconheceu o trabalho que nós fizemos enquanto deputados e dirigentes do PS e como deputados independentes, e o valor das nossas propostas nas áreas sociais e ambientais. Com a dissolução da Assembleia, acharam que era interessante que pudéssemos continuar na política. Analisámos diversas possibilidades e chegámos à conclusão que o Movimento Partido da Terra (MPT) estava próximo daquilo que têm sido as nossas iniciativas.
DIÁRIO - Tem alguma relação histórica com o Partido da Terra?
JI - Não tenho nenhuma relação. A única relação que tinha era de respeito pelo arquitecto Ribeiro Telles, por ter dado a cara pelas questões do ambiente.
DIÁRIO - Ouvimos dizer que nessa busca de um partido até contactaram o PCTP/MRPP?
JI - Tivemos contactos com pessoas ligadas ao MRPP e ao PSN. Mas depois o partido que nos deu mais garantias em termos da sua declaração de princípios, dos estatutos e das causas, particularmente o Ambiente e as causas sociais, foi o MPT.
DIÁRIO - O que é que a vossa candidatura traz de novo em relação às outras seis?
JI - Aquilo que nos poderá diferenciar é que vamos estar integrados no MPT e vamos abordar fundamentalmente as áreas sociais e ambientais, como o ordenamento do território e as energias renováveis.
DIÁRIO - O Governo falha muito nos domínios do Ambiente e do Ordenamento do Território?
JI - Falha muito. Por exemplo, não é compreensível que ainda hoje não tenhamos na Região planos de ordenamento da orla costeira. Quando agora se fizerem esses planos, será para legalizar o que já se fez de forma ilegal. Tal como não é aceitável que só agora se tenham concluído muitos dos planos directores municipais, embora aqui ache que a maioria destes PDM estão desactualizados.
DIÁRIO - O balanço global que faz de 30 anos de governos PSD é positivo ou negativo?
JI - Qualquer cidadão honesto reconhece que a Madeira mudou entre o 25 de Abril e hoje. Agora, os contributos não são só do Governo Regional e do PSD. Há também um contributo da UE, do Estado, dos privados... Uma das grandes discordâncias que tive dentro do PS é que eu achava que o PS, enquanto partido que aspira a governar a Madeira, não era capaz de reconhecer o que está bem, para ter legitimidade política e moral para dizer o que está mal e propor alternativas. Quando eu defendia esta tese era acusado de estar a fazer o jogo do PSD. DIÁRIO - E isso não é o jogo do PSD?
JI - Não é. O eng.º José Sócrates enquanto líder da oposição era sempre o primeiro a reconhecer o que o governo do PSD a nível nacional estava a fazer de bom para depois criticar o que estava mal. O exemplo foi importante para ele depois chegar ao poder. Há muitas coisas que são feitas na Madeira e que são criticadas pelo PS-Madeira mas que o governo socialista dos Açores faz igual.
DIÁRIO - Se o balanço é positivo então as pessoas têm poucas razões para votar na oposição.
JI - Eu não disse que era positivo. Disse que a Madeira mudou. Também há situações de pobreza e de exclusão social. Não é uma situação alarmante nem generalizada, mas existe. Um dos grandes erros do GR é ignorar esta questão. O que falta fazer na Madeira é a tal aposta nas áreas sociais.
DIÁRIO - Uma alternância de partido no poder ajudaria a corrigir essas prioridades?
JI - A regra da alternância é fundamental em democracia. Agora, quem está posicionado para ser alternância tem que estar preparado do ponto de vista político, organizativo, de credibilidade de políticas e esse esforço tem que ser feito por quem é alternativa ao Governo, que é o PS. Se está preparado ou não, não quero fazer a minha apreciação pessoal. Não quero que as pessoas pensem que estou numa atitude de ressabiado com o PS-M.
DIÁRIO - O PS-Madeira tem quadros para fazer um Governo Regional?
JI - O PS tem que estar sempre preparado para ser Governo por ser o maior partido da oposição. Se está ou não preparado, cabe ao eleitorado decidir. Enquanto estive no PS, tive oportunidade de chamar à atenção para a necessidade de não se excluir pessoas de referência e com competência, que podiam dar um grande contributo ao PS e à Madeira.
DIÁRIO - Esta alteração da Lei das Finanças Regionais era motivo suficiente para a antecipação das eleições?
JI - Tendo o PSD a maioria absoluta na Assembleia regional e o Governo da República já dito que não alterava a LFR, não havia necessidade de dissolver a Assembleia. Embora do ponto de vista político isto tenha funcionado como um travão a futuras medidas do género.
DIÁRIO - As actuais dificuldades económicas da Região são culpa de quem?
JI - A Lei das Finanças Regionais não é a única causa. É óbvio que a situação da Região tem a ver também com a responsabilidade de 30 anos de governo PSD. Um partido que governa uma Região durante 30 anos não pode dizer que não tem responsabilidade nos fracassos. Acho que a Lei das Finanças Regionais foi um mau momento da Autonomia e mais do que penalizar o PSD penaliza a Região. Mas há situações de dificuldades económicas que não advêm da revisão desta lei.
DIÁRIO - O líder do PSD-Madeira já disse que se o seu partido não tiver maioria absoluta, deveria formar governo com MPT ou PP, porque são os seus aliados naturais. Isto não é comprometedor para vós?
JI - Não. O PSD tem todo o direito de escolher quem é que gostaria de ter como parceiros mas nós também temos a liberdade de aceitar ou não ser parceiros do PSD. No caso de elegermos deputados e não haver uma maioria, estamos disponíveis para encontrar, com todas as forças políticas, uma solução forte, com estabilidade.
DIÁRIO - Já escolheu a Secretaria ou Direcção regional que quer para si?
JI - Isso não passa de pequenas distracções do presidente do Governo. É sempre possível, mas se a questão se colocar nós haveremos de analisar na altura. Mais importante nessas situações é saber quais são os objectivos do Governo, as políticas e as pessoas. É uma questão que nunca equacionámos e que teríamos que equacionar nessa altura.
DIÁRIO - Este 'namoro' de Jardim ao MPT não é o culminar de uma estratégia concertada que havia com os deputados independentes para desgastar o PS?
JI - Enquanto cabeça-de-lista do MPT ou deputado independente, em momento nenhum foi minha intenção fazer o jogo do PSD. Se for por aí, então temos que ver de quem foi a responsabilidade da nossa saída do PS. Uma vez que o PS nos pôs fora, nós temos toda a legitimidade e liberdade...
DIÁRIO - ... foram postos na rua pelo PS porque antes fizeram declarações bastante polémicas. JI - O que aconteceu foi uma campanha muito negativa por parte de alguns 'duros' da direcção do PS contra nós para nos encostar ao PSD e denegrirem a nossa imagem e o nosso trabalho. Mas nós estamos de consciência tranquila. Quanto às declarações que fiz, há também que confrontar a direcção nacional do PS com declarações que dezenas de dirigentes fizeram, com impacto nas televisões nacionais, e hoje essas pessoas estão sentadas na Assembleia da República.
DIÁRIO - Refere-se às declarações de Almeida Santos de apoio a Alberto João Jardim?
JI - É um exemplo. Se eu dissesse do Alberto João o que o Almeida Santos disse teria sido fuzilado numa praça pública pela direcção do PS. Que eu saiba ele não teve nenhum processo disciplinar nem nenhum puxão de orelhas.
DIÁRIO - Tem de reconhecer que a vossa candidatura vem dar muito jeito ao PSD, porque 'entra' sobretudo no eleitorado do PS.
JI - A nossa mensagem é dirigida a todos os eleitores da Madeira. É óbvio que onde nós somos mais conhecidos e temos uma relação de maior afecto e de proximidade é na área do PS, porque um conjunto de pessoas que estão afectas a este projecto vieram daí. Nesta lista temos muitas famílias socialistas, e numerosas. É natural que isso possa afectar o eleitorado socialista. Isso acontece naturalmente e não por uma intenção da nossa parte com esse fim. Mas também não vamos recusar votos.
DIÁRIO - O PSD é que permitiu que os deputados independentes tivessem acesso ao dinheiro do 'jackpot'.
JI - O que houve foi a simples aplicação do que já estava consagrado para todos, ponto final. Como passámos a independentes, nós é que tínhamos que fazer a gestão desse dinheiro. Todos os deputados na Assembleia valem os mesmos 15 salários, que vão para os partidos. Se formos eleitos agora pelo PT, essas verbas já não vão para o deputado mas para o partido. Esse dinheiro não é para nós, é para a actividade parlamentar e a gente tem que apresentar contas e responsabilidades disso.
DIÁRIO - Ainda há pouco entregaram uma carrinha ao MAC paga com essas verbas. Como é que isso é uma actividade parlamentar?
JI - Não está consagrado em nenhuma norma do regimento da ALM ou do Estatuto da Região critérios para o uso desses dinheiros.
DIÁRIO - E acha bem isso?
JI - Olhe, nós tivemos uma reunião com os responsáveis do MAC, que nos disseram que não eram apoiados pelas instituições regionais. O que está mal, porque o MAC faz um papel importantíssimo junto de mais de 200 crianças carenciadas. Por isso, contribuímos para essa causa de solidariedade, tal como o fizemos para outras. Demos, está tudo documentado e não nos arrependemos disso.
DIÁRIO - O desejo de quererem gerir as verbas do 'jackpot' parlamentar não terá sido o principal motivo que os levou a se tornarem deputados independentes?
JI - Por acaso, não. É uma mentira do tamanho do mundo. Eu não sou santo mas também não sou o demónio que alguns tentaram pintar. Quando nós passámos a independentes não foi por dinheiro, porque só depois de sermos independentes é que uma pessoa me chamou à atenção para o que existia na Assembleia da República, onde os deputados independentes tinham uma verba para a sua despesa.
DIÁRIO - Apesar de ser um partido novo, parece que a vossa candidatura já está com dificuldades no alinhamento dos nomes na lista. Confirma?
JI - Reconheço que não é fácil fazer listas. Passa-se o mesmo nos pequenos e nos grandes partidos. No nosso caso, os cinco primeiros candidatos vão fazer rotatividade se elegermos dois deputados.
DIÁRIO - Não vai acontecer como no penúltimo mandato, em que houve um elemento da lista do PS de Câmara de Lobos que o acusou de não cumprir um acordo de rotatividade?
JI - Como também houve queixas do PS de Santa Cruz... Isso (rotatividade) foi uma questão que se falou mas não se formalizou. Para se evitar essas situações, no caso do PT vai ser formalizado por escrito, por um advogado, com responsabilidade. Não vamos dizer publicamente isto para depois não cumprirmos.
DIÁRIO - Falta-lhe dois anos para conseguir o direito à reforma vitalícia da Assembleia, não é
JI - Para ser sincero, nem sequer sei como é que isso vai funcionar agora, porque há quem diga que esse direito não é automático como antes e tem a ver com a idade. Não sei porquê, mas alguns analistas têm a tendência de crucificar o João Isidoro. Parece que é só o João Isidoro que está na política para ter uma reforma, para ter um privilégio da política. Também o eng.º José Sócrates recebe uma reforma da política. Se o José Sócrates recebe porque é que o João Isidoro de Câmara de Lobos não poderá receber? Não tenho o mesmo direito que ele? ...