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PEDRO QUARTIN GRAÇA

Blog pessoal criado em 2003

PEDRO QUARTIN GRAÇA

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Mário Soares e a independência de Cabo Verde

17.04.10, Pedro Quartin Graça

"Cabo Verde não deveria ter sido independente"


Lembro - me bem de um episódio passado com Mário Soares. Era ele Primeiro - Ministro e teve a simpatia de receber na Residência Oficial de S. Bento uma delegação das direcções da ALTAN/AAYPL - Atlantic Association of Young Political Leaders de que eu fazia, à época, parte. Estávamos na década de 80 em pleno governo do "Bloco Central". Já na altura, no meio dos habituais croquetes, recordo-me de lhe ter feito uma pergunta sobre "alhos" e de, ter surpreendentemente, ter recebido uma resposta sobre "bugalhos". Pensei cá para mim: o senhor teve uma "ausência", o que não deixava de ser preocupante para quem, à data, ainda era um político relativamente novo. Daí para cá as "ausências" de Soares foram-se tornando algo frequentes. Uma das mais recentes foi a "estranha resposta" dada à comunicação social acerca do ex- Presidente do CDS - PP José Ribeiro e Castro. No meio destes episódios, Soares consegue por vezes surpreender positivamente. Foi o caso da sua última declaração pública acerca da sua oposição a que Cabo Verde fosse independente. A declaração foi produzida esta semana "na minha casa". Soares afirmou que "o arquipélago "teria muito a ganhar" em ter evitado a separação em relação a Portugal". E acrescentou:"Eu sempre achei que Cabo Verde não deveria ter sido independente, não assisti à independência de Cabo Verde por isso mesmo", disse, no colóquio "Vozes da Revolução: Guerra Colonial e Descolonização", realizado no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). E mais adiantou: (...) "Cabo Verde não é propriamente África porque Cabo Verde é um arquipélago do norte do Atlântico e que há uma relação que deveria ter sido mais explorada entre os três arquipélagos existentes que são Europa, ou seja, Açores, Madeira, depois Canárias e podia ser Cabo Verde".

A afirmação chegou mais de 30 anos passados sobre a data do infeliz processo de "descolonização exemplar" de que Portugal, com Mário Soares à cabeça, foi público autor. Desta vez Mário Soares teve um momento de grande lucidez. Portugal e Cabo Verde teriam tudo a ganhar se, desde o início, aquele país atlântico tivesse permanecido próximo da "terra mãe". Tal não aconteceu e Cabo Verde fez, e bem, desde 1975, o seu próprio caminho. Hoje é uma das nações mais jovens do mundo, com uma média de idade de 24 (!) anos. Significa isto que tem todo o futuro à sua frente. Portugal, ao invés, parou no tempo e definha ano após ano.

30 anos passados, a história registará que Mário Soares disse uma verdade. O tempo é que entretanto passou e a "a água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte" ou, dito de outra forma, há oportunidades que só se alcançam uma vez. Portugal perdeu a sua. Ficámos todos a perder!

Manifesto dos 33 - Ainda não aprenderam nada?

03.04.10, Pedro Quartin Graça

Ex-ministros atacam aposta de Sócrates nas energias renováveis, titula o "i", dias atrás, ao apresentar mais um manifesto da sociedade civil que junta personalidades políticas, economistas, engenheiros e empresários contra opções do governo PS. Agora é a política energética e a aposta nas energias renováveis, uma das principais bandeiras de José Sócrates, que vai ser posta em causa. Os argumentos são os mesmos de sempre, estafados, requentados apenas, mas agora com a “versão modernaça" de que a energia nuclear é “limpa” e “segura”. O “lobby”, que nunca esteve morto, diga-se, regressa agora, esperançado em que Pedro Passos Coelho, uma vez Primeiro - Ministro, lhe “dê a mão”. É verdade que a expressão "energia nuclear" não aparece no documento, mas basta olhar para o nome dos subscritores para se perceber o que pensam: todos são favoráveis à discussão ao mais alto nível desta opção. Mas mais do que a discussão, pretendem a implementação do nuclear. O manifesto, que tem em Mira Amaral um dos seus subscritores, conta também com os nomes de Miguel Cadilhe, Valente de Oliveira, Cardoso e Cunha e João Salgueiro, a que acrescem António Borges e os gestores Alexandre Relvas e Alexandre Patrício Gouveia, estes da área do PSD. É verdade que, em matéria energética, o Governo do PS tem cometido muitos erros e atentados contra o ambiente (e a aposta nas barragens é, claramente, um deles), mas, diga-se em abono da verdade, que Sócrates tem estado bem num ponto: a aposta nas energias renováveis. Esperemos que Pedro Passos Coelho, caso tenha oportunidade de o fazer, não deixe de levar este avanço registado na sociedade portuguesa na devida consideração.

E não venham de novo, por favor, com o argumento de que Chernobyl "passou à história". As imagens, altamente chocantes, décadas depois, aí estão para o demonstrar. Porque nós não esquecemos!